terça-feira, 22 de junho de 2010

" As Religiões afro-descendentes no Brasil tês destacado papel na constituição problemática afro-brasileira, sendo, ainda hoje, o elo mais forte com as culturas africanas. Durante a vigência da escravidão até, até 1888, as práticas religiosas foram cerceadas pelo catolicismo, o que restringiu a difusão de seu imaginário e sua produção artística. Desde a transformação do país em uma nação republicana e laica, em 1889, as religiões afro-brasileiras vêm conquistando, de modo paulatino e nada fácil, a liberdade do culto e expressão pública de seus valores éticos, estéticos e artísticos. [...] Marginalizadas, abafadas, precisam se adaptar às condições locais, se reinventar. Múltiplos foram os modos de resistência, as transformações para sobreviver, o que implicou descontinuidade e adaptação, persistência e mudança nas práticas religiosas e, consequentemente, em sua cultura material e arte".
CONDURU, Roberto. Arte afro-brasileira. Estética e arte nas religiões afro-brasileiras. Belo Horizonte: C / Arte, 2007. p. 25.

A.L. Interessante refletir, a partir desse fragmento, todos os processos de aculturação e reinvenção sofridas pelas religiões afrobrasileiras e pelas demais formas de expressão do povo negro no Brasil. A marginalização levou assim ao sincretismo, ao uso de vestimentas europeias nos cultos, porém esta mesma marginalização fortalece os atos de afirmação das suas características, dando a cultura afrobrasileira em geral, um aspecto único de solidez e flexibilidade.
Sólida ao se manter tradicional, com formas muito singulares de grupo social, das relações hieráticas, das iniciações, dos rituais e assentamentos, de uma estética que lembra o tribal. Mas flexível ao incorporar entidades brasileiras, a figura do caboclo, o índio de pele vermelha assumindo o lugar de oxósse nos terreiros de umbanda, e o exu, malandro e endiabrado, se apropriando do imaginário judaico cristão para ser cultuado.